Nos últimos meses, o cenário político do Rio de Janeiro foi abalado por uma série de prisões que revelaram tentáculos do comando vermelho.
A prisão de figuras influentes no Rio de Janeiro
Entre os detidos estão Rodrigo Bacellar, presidente da Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro (Alerj), o deputado estadual TH Joias e o desembargador Macário Ramos Júdice Neto.
As prisões foram autorizadas pelo ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), sob a acusação de que os três teriam beneficiado, direta ou indiretamente, os negócios do CV.
As defesas de Bacellar e Macário alegam inocência, enquanto o advogado de TH Joias afirma não ter tido acesso à decisão judicial. As investigações continuam e podem alcançar outros níveis do poder estadual, segundo Daniel Hirata, sociólogo do Grupo de Estudos dos Novos Ilegalismos da UFF (Geni/UFF).
Histórico de escândalos políticos no Rio
O Rio de Janeiro tem um histórico de escândalos envolvendo políticos e criminosos. Em 2009, uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) revelou a colaboração de vereadores e deputados estaduais com milícias.
O Estado já teve cinco ex-governadores presos por corrupção ou irregularidades administrativas. Casos notórios incluem a deputada Flordelis, acusada de matar o marido, e o vereador Jairinho, investigado pela morte de seu enteado, Henry Borel.
Mais recentemente, a ex-deputada Lucinha foi acusada de envolvimento com milícias. No entanto, até agora, nenhum político havia sido indiciado por suspeitas de envolvimento com o CV. O que diferencia o caso atual é o envolvimento de figuras de alto escalão, como um presidente da Alerj e um desembargador.
A ascensão e queda de TH Joias
A prisão de TH Joias, em setembro, durante a Operação Zargun, foi o ponto de partida para as investigações que desnudaram a rede de conexões entre o Comando Vermelho e políticos do Rio. Criado na Zona Norte do Rio, TH Joias se destacou no mercado de joias, mas também foi acusado de lavar dinheiro para o Terceiro Comando Puro (TCP), facção rival do CV.
Apesar das suspeitas, TH Joias conseguiu mais de 15 mil votos na eleição de 2022 e assumiu o mandato na Alerj em 2024. Pouco mais de um ano depois, a Polícia Federal o acusou de ser um membro importante do CV, ajudando na lavagem de dinheiro, compra de armas e drones, e mantendo relações políticas consolidadas.
A influência política de Rodrigo Bacellar
Rodrigo Bacellar, que ascendeu rapidamente na Alerj, era um dos principais aliados do governador Cláudio Castro e influenciava decisões ligadas à segurança pública. As investigações indicam que Bacellar sabia da operação contra TH Joias e o alertou, sem informar as autoridades.
A prisão de Bacellar, em dezembro, foi revogada pela Alerj após cinco dias, mas ele teve que deixar a presidência da Casa e cumprir medidas restritivas. A decisão do STF destacou a influência de Bacellar no governo estadual, incluindo nomeações em setores sensíveis à atuação de organizações criminosas, como a Polícia Militar e a Polícia Civil.
O papel de Macário Ramos Júdice Neto nos indícios de vazamento de informações para o Comando Vermelho
O desembargador Macário Ramos Júdice Neto também está no centro das investigações. A Polícia Federal encontrou indícios de que ele vazou informações sobre a Operação Zargun, que levou à prisão de TH Joias. Júdice já havia sido investigado por suspeitas de venda de sentenças e envolvimento com bicheiros.
Além disso, as mensagens analisadas pela PF indicam uma relação próxima entre Júdice e Bacellar, com trocas de votos de confiança e nomeações de familiares em cargos estratégicos. A investigação sugere que essa proximidade pode ter facilitado a atuação do CV no alto escalão do poder judiciário e legislativo do Rio.
A reação do governo e o impacto das investigações
A reação do governo estadual foi rápida. Cláudio Castro demitiu Rafael Picciani da Secretaria de Esportes, o que automaticamente retirou TH Joias do cargo de deputado estadual. Essa manobra impediu que a Alerj analisasse a manutenção ou cassação do mandato do parlamentar preso.
Portanto, as investigações também revelaram tentativas do CV de cooptar membros do governo, como Gutemberg Fonseca, secretário de Defesa do Consumidor, e Alessandro Pitombeiro Carracena, subsecretário de defesa do consumidor.
Carracena foi preso sob a acusação de repassar informações sobre operações policiais em áreas dominadas pelo CV.
A influência do Comando Vermelho nas eleições municipais
A influência do Comando Vermelho não se limita ao governo estadual. Nas eleições municipais, Marcos Aquino, do Republicanos, foi o vereador mais votado na cidade. Ele é irmão de Luiz Paulo Matos de Aquino, acusado de integrar um grupo local do CV. Marcos Aquino foi preso durante a Operação Contenção, que visava seu irmão.
Além disso, outro vereador, Ernane Aleixo, também foi preso, acusado de auxiliar o TCP com suporte logístico. Esses casos evidenciam a tentativa das facções criminosas de se infiltrarem em todas as esferas do poder político no Rio de Janeiro.
Essa notícia foi surpreendente, a gente não sabia que ia se romper uma barreira dessas.
| Nome | Cargo | Acusação |
|---|---|---|
| Rodrigo Bacellar | Presidente da Alerj | Beneficiar o CV |
| TH Joias | Deputado Estadual | Membro do CV |
| Macário Ramos Júdice Neto | Desembargador | Vazamento de informações |