As ações humanas deixaram marcas detectáveis na geologia da Terra com o Césio-137 em Rio Paulista. Um estudo da USP identificou Césio-137 (Cs-137) em sedimentos do rio Ribeira de Iguape, interior de São Paulo.
Essa substância, dispersa na atmosfera e transportada pelo ar, se acumula em solos e bacias hidrográficas, servindo como um marcador temporal para o Antropoceno. O Antropoceno é uma época geológica cujo início formal ainda é debatido entre cientistas.
O Césio-137 encontrado não está relacionado ao acidente radiológico de Goiânia de 1987, e os níveis identificados não representam riscos à saúde.
Segundo o geógrafo Breno Schimidtke Rodrigues, autor da pesquisa, delimitar o Antropoceno significa reconhecer a força geológica da ação humana e sua capacidade de provocar mudanças no planeta.
Ele defende a formulação de políticas públicas e o desenvolvimento de soluções tecnológicas para mitigar os danos ambientais.
A dissertação, defendida na Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da USP em junho de 2025, analisou marcadores radioisotópicos do Antropoceno em sistemas fluviais meândricos, identificando traços de Cs-137 no baixo Ribeira (SP).
O pesquisador explica que não há consenso sobre a data de início do Antropoceno. Algumas correntes científicas o associam à Revolução Industrial, enquanto outras apontam para a “grande aceleração” a partir de 1950.
E foi caracterizada pelo crescimento populacional, aumento no consumo de energia, intensificação da exploração mineral e emissões de gases de efeito estufa. Há ainda quem defenda uma origem mais remota, ligada ao domínio do fogo.
Rodrigues afirma que a presença de Césio-137 é apenas uma das evidências das transformações provocadas pela ação humana. Ele aponta que o elemento radioativo encontrado no rio se originou em testes nucleares realizados durante a Guerra Fria.
Césio-137 em Rio Paulista foi atribuído a mineração e urbanização
O pesquisador também destaca que a mineração, agricultura e urbanização geram alterações significativas nos ecossistemas. O desmatamento da Amazônia, por exemplo, eliminou uma área de vegetação equivalente ao tamanho da França em 4 décadas, impactando a biodiversidade e os processos hidrológicos.
O rio Ribeira de Iguape, com cerca de 470 km de extensão, é considerado um dos mais importantes do estado de São Paulo e o maior rio “vivo” do estado, sem barragens.
A pesquisa coletou amostras em quatro pontos da planície fluvial do rio Ribeira de Iguape, confirmando a presença de Césio-137 em concentrações distintas. Os maiores picos foram registrados na bacia de decantação e no meandro abandonado.
A pesquisa também identificou um pico de concentração de Césio-137 em 1963, período marcado pela maior chuva radioativa já registrada no mundo, resultado dos testes nucleares da Guerra Fria.
O geógrafo explica que os traços de césio associados à “grande aceleração” funcionam como um “carimbo geológico” que evidencia o impacto da humanidade na história da Terra.
Sobre a saúde pública, Rodrigues informa que os níveis encontrados são muito baixos, residuais e não oferecem preocupação quanto à segurança radiológica.
Pesquisas anteriores também identificaram Césio-137 em áreas marinhas próximas à costa brasileira em valores similares e sem risco significativo à saúde humana.